Delicie-se

    cidades são feitas de esquinas
    metáfora materializada das escolhas
    e, pequeno nessas ruas mapeadas,
    não sei se me acolhe ou amedronta

    me gasto nas ruas, me ralo no asfalto
    deixar como almíscar o suor,
                como oferenda o sangue,
                como pixo as lágrimas,
    me acabo em fazer da cidade humana
    me imprimo, tinta, nas folhas cada vez mais sujas
    em que está impresso o mapa
    em que imprimiram o mapa
    em que reimprimo o mapa
    grande demais para ver se uma prisão,
    se é ou teria caminhos…

    entre as esquinas me paro pensando
    se todos os caminhos dão no mesmo lugar
    e se o lugar é meu destino sonhado
    e se rasgar o mapa abriria portas
    ou fecharia jornadas

    o mapa da cidade, roto e sujo
    marcado dos sacrifícios que fizemos
    desenhado em trôpegas linhas bêbadas
    é meu mapa de caminhos clandestinos
    minha camada de humanidade sobre o concreto
    resto de pele esticado por todo áspero que me ralei

    minhas esquinas fabricadas fogem do destino
    cão que dá voltas no mesmo lugar
    mapa sobreposto ao dos órgãos públicos
    novelo de memória, quem sabe lar
    caminhos emaranhados que não sabem de destino

    só sei que preciso caminhar

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