09 — A Igreja
por Cochise César— Um símbolo pagão na igreja? — Paula perguntou incrédula.
Os alunos começavam a ir para suas atividades do contraturno e Arthur tentava convencer Paula a os levar para dentro da sacristia, procurar um símbolo celta.
— Pagão é uma palavra um pouco pesada. — Roberta reclamou.
— Mas não é o que ele é? — Ela perguntou.
— Ele é celta. — Marcus corrigiu — Pagão é que nem “bárbaro”. Uma palavra para colocar todos os outros no mesmo balaio, um balaio ruim. Você é pagã, não é Roberta? Mas tenho certeza que não é celta.
— Você é pagã? — Paula perguntou espantada enquanto Roberta levava a mão ao peito por instinto para ver se estava usando suas guias. Nunca as usava na escola, por mais que a avó não gostasse.
— A bandana. — Arthur explicou. — É uma bandana legal.
— Essa foi uma nota de rodapé desnecessária. Ficaria melhor sem ela. — resmungou para Marcus antes de explicar para Paula — Sou candomblecista.
— E o que a bandana tem a ver com isso? — Paula perguntou esquadrinhando a estampa.
— O ofá de Oxóssi1 é característico. — Marcus explicou. — E desculpe. Foi mesmo abusivo.
— Só não faz mais isso. — Roberta repetiu a expressão de Guilherme ainda incomodada em ser exposta, mas também com raiva de não ter percebido que Arthur a tinha identificado de manhã. Tinha chegado até a pensar que era outra coisa…
— Desculpe também por… — Paula parecia ter dificuldade em explicar pelo que estava se desculpando.
— Só não faz mais isso também. — Roberta queria colocar uma pedra em cima do assunto. — Tem como a gente ir à sacristia?
— Preciso inventar um motivo. — Paula desconversava, ainda sem gostar da ideia — Semana que vem a gente vê.
— Estamos todos atrasados não é? — Marcus pôs um ponto final na conversa, chamando a deixa para que todos fossem para suas atividades do contraturno. Por fim, ficaram sob a figueira apenas Arthur e Roberta.
— Não tem uma atividade para ir? — Roberta perguntou para se arrepender logo. Parecia estar o mandando embora.
— Não às sextas. — Ele respondeu sem parecer enxotado.
— Acho que eu vou à biblioteca. — respondeu — Pegar A Tempestade.
— Vão estar todos emprestados. — Ele respondeu olhando o pátio que aos poucos ficava vazio — Te passo o meu.
— Obrigada. — Roberta respondeu sem conseguir achar algo mais para e evitar o silêncio que se instalou no meio do burburinho que morria aos poucos.
— Você estava procurando aqueles colares que se usa atravessados, não é? — Arthur perguntou depois de um incômodo silêncio.
— Minhas guias. — Corrigiu — Sim, estava.
— Ouvi dizer que nunca se tira elas. — Ele comentou.
— Não é nunca também. — Roberta explicou. — Mas seria bom mesmo estar com elas aqui.
— Eu também sou pagão. — Explicou como se toda conversa fosse uma preparação para essa revelação. — Wiccano. Aliás, A Tempestade é uma obra pagã pra caramba. — Ele começou a procurar na mochila — Queria dizer que não devia ter vergonha da sua crença, se esconder, mas não gosto de ser hipócrita.
— Então você… — Roberta começou desviou o olhar para onde as Sephirot e Qliphot estavam desenhadas.
— Não, isso é magia hebraica. — ele respondeu entregando o livro que finalmente achou na mochila — Mas entendo mais sobre isso que a maioria. — Levantou a manga do uniforme mostrando na parte interna do braço a tatuagem de uma tríscele formada por três semicírculos entrelaçados — Apesar de dizer pra todo mundo só que gosto muito de Led Zeppelin.