Delicie-se

    — Como está o pai? — perguntou assim que a avó fechou a porta.

    — Fui lá anteontem. — ela parecia mais velha que antes, mais cansada que antes; derrotada — O juiz ainda não decidiu se ele vai pro pinel, se pode vir pra casa ou se continua lá.

    — Mas já fez três meses que ele está lá. — respondeu indignada.

    — Eu sei, minha filha. — Beatriz suspirou antes de repetir — Eu sei…

    — Desculpa, vó, é que… — Roberta começou, mas foi interrompida.

    — Você é forte demais, filha. — Disse e começou a ir para a cozinha, como se o assunto estivesse encerrado.

    — E isso é bom ou ruim, vó? — Raquel perguntou indo atrás de Beatriz.

    — Não existe orixá ruim, filha. — Ela respondeu — Você não deve ser forte o tempo todo. Posso ir com você ver a Cida?

    — Claro! — Roberta respondeu espantada — É seu filho!

    — E é o seu pai. — Ela punha café e bolo na mesa — Se quiser ir sozinha, é direito seu.

    — Eu não quero mais ficar sozinha. — Roberta se servia — Estou sozinha a semana inteira.

    — Como está Agda? — Beatriz perguntou.

    — Como antes. — pausa — Pior. Não fala quase nada, não desfaz a mudança… Acho que ela precisa de mais um tempo para superar tudo.

    — E você?

    Roberta parou de mastigar o bolo de aipim, poderia esperar a pergunta, mas não estava preparada, não sabia o que responder. “Choro todo dia tem três meses”? “Às vezes quero morrer”? “Preciso da minha vida de volta”? “Me identifiquei com o velho amargo e vingativo do livro”?

    — Eu preciso de um milagre que eu sei que não vem. — respondeu com os olhos úmidos depois de muito tempo.

    Beatriz sentou ao lado de Roberta e a abraçou, como tantas vezes, desde que Ronaldo foi preso. Roberta, com o rosto afundado no peito da avó, começou a chorar.

    — Nosso caminho é duro, minha filha, mas todo caminho que tem, a gente consegue trilhar. Força pra isso eu sei que você tem, que é filha de Obá, mas nem por isso tem que andar nessa estrada sozinha.

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